sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quase uma fábula de auto-descobrimento


Desavisadamente, percebo uns graozinhos de terra no chão.

Tão pequenininhos e sutis quanto a minha força. Olho-os com tamanho despercebimento que misteriosamente tudo começa a fazer um estranho sentido.

De onde eu vim para parar bem ali na frente? E por onde aqueles pontinhos de terra capengaram até esbarrarem em mim?

Com certeza temos alguma coisa a dizer um ao outro: algo que de antemão não se definiria por si só, mas que carregaria em si uma mensagem tão forte que abalaria potencialmente todas as minhas estruturas.

Eu, padecendo de um anacronismo de sentidos, prostrei os meus pés sobre esse caminho para que eles o percorram aos milímetros e façam valer a lei da ação-reação, que eu ande por esta terra e ela ande sob mim. Que percorra cuidadosamente os meus meandros, avalie as minhas saídas, meus muros e minhas tantas outras limitações. Coloquei-me nesse caminho calmo, bem longe dos meus aflitos, não para deixar de ouvi-los, mas para ver se eles se emudecem sozinhos. Não posso carregar mais companheiros do que a minha bagagem comporta, é desonesto para com minha coluna tão açoitada por pesos desnecessários. Vim rezando acima de meus limites esgotados de esperança para encontrar por este percurso algum posto de reabastecimento de fé. E tudo anda tão seco... tão seco que chega a me ressecar por dentro. Meu âmago vira a terra árida e quebrada do sertão esperando pela chuva.

Esta chuva veio na forma de você, pedaço de terra?

Se for, desvende-se pra mim, por favor! Eu sei que é presunçoso e sobretudo injusto com você querer seu desfecho antes dos prováveis clímaces, mas é que eu venho carregando uma sede de desfechos tão letais ultimamente. Meu infinito particular escafedeu-se para um desses limbos onde ficam as apatias. Perdi a esportiva sobre mim mesmo. Não tenho mais tempo a perder e nem tenho um motivo consistente de não ter mais porque não perder tempo. Se eu perdesse tempo minha vida faria mais sentido?

Ah, então você está aqui me fazendo perder tempo?

Se for... Perfeito! Obrigado mesmo! Eu estava precisado de verdade de uma vadiagem mental! Faz bem mesmo. Sinto-me novo em folha para qualquer nova coisa. Como seria a terra que Hitler viu antes de começar o holocausto? Seria da mesma matéria que a de Gandhi, enquanto ele pregava assiduamente a paz? Por que a reposta tem que ser um assustador sim? Por que tudo tem que ter um mesmo princípio e a gente que escolha o seu resto? Eu definitivamente não me sinto apto a fazer escolhas de direções. As minhas setas não param de girar, como saber para onde ir?

- Eu só estou aqui porque me desprendi da minha montanha, assim como você! Só parei aqui para lhe lembrar que minha essência é muito maior do que meu tamanho, também assim como você.

- Ué, migalhas de terra falam? Eu hein, vou é continuar andando!

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