segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sobre coisas eternas


Quanto aos planos feitos por um para dois, reconheço que as inebriantes chances hoje são um cemitério absurdamente vazio, dos corredores às tumbas. Tendo em vista que pra morrer é necessário nascer, é plausivelmente idiota pensar que acabou algo que não começou. Mais que isso: as coisas, as de verdade, não surgem do nada... elas nos surpreendem. Para tal, é altamente imprescindível estarmos distraídos, já que alertas o tempo todo, percebemos coisas demais... sentimos demais. Penso que o segundo maior erro do ser humano é estar alerta. O primeiro é buscar fundamento para tudo. Com todo o respeito aos cientistas, se eu realmente tivesse que saber de tudo, por certo a mesma energia criadora que me faz sulgar o peito da minha mãe pra me alimentar sem eu nem sequer falar se encarregaria de me ensinar tudo quanto a intelectualidade julga inteligente. Será que se meu intelecto não fosse tão dominante... eu conseguiria sentir o que meu coração sente com mais destreza? Qual seria a sensação de pensar com o que a gente usa pra racionalizar? Os meus neurônios se colidem tanto quando tentam absolver a inteligência dos instintos... eles são tão naturais e irracionais e inteligentes que isso me irrita! Eu os quero como complemento, mas os treino como inimigos no fim das contas. Até saber como fazer essa retórica parar vai demorar um pouco, quem sabe daqui pra lá eu esteja ponderando considerações sobre planos de dois pra dois... algo como alguma coisa que forme um inteiro... assim como duas metades... algo bem racional. Algo bem racional que o meu coração anseia por sentir, ironicamente sem pressa.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

ceticismo


Eu gosto muito de olhar para o céu e me certificar de que ele continua acima de mim. É aliviante perceber que cada nuvem tem sua própria forma e que essa forma muda com o tempo; que as estrelas que eu tanto admiro já não estão mais onde vejo. Agradeço por, toda a vez que olhar para o céu, sentir os pés bem fincados ao chão. Isso faz eu me sentir humano, e a minha alma ganha dimensões tão infinitas... Me sinto completamente inacabado, como uma obra de arte a qual um artista permitiu que se completasse sozinha. Sinto que minhas preces vão até onde realmente devem ir: para além de mim. Não consigo pensar em um dia sem vento, sem chuva, sem luz. É extasiante sentir a luz do sol entrando em meus poros. Nem sei se mereço tocar a água e saber que ela me toca com a mesma força. Eu gosto muito de olhar para o céu e me certificar de que ele continua acima de mim.


terça-feira, 25 de agosto de 2009



Com um suspiro pesado e incontrólável, finalmente resolveu parar. Já havia andando tanto que suas pernas pareciam implorar que ele parasse. Parou, e lá ficou. Observou atentamente e com o máximo de destreza possível tudo quanto pudesse captar. Observou como seu coração batia mais frenético que compassado, deduzindo uma possível cegueira temporária da parte da mente. Observou o quanto seu corpo estava deseperadamente aproveitando o descanso no caminho, era algo como um cativo que decorava os segundos de liberdade ao mesmo tempo em que se prepara para voltar às grades.Como demorou que ele chegasse ali... como vai demorar ele chegar até onde pretendia. Olhou para trás e percebeu as marcas de seus sapatos no chão; percebeu as linhas grossas que arrombavam o chão de quando ele foi carregado e seu calcanhar foi se arrastando na areia; percebeu os momentos em que ele pensou que estava caminhando acompanhado, mas lá só haviam o registro dos seus passos. Sentiu-se desenfreadamente só, asperosamente só, melancolicamente só. Partindo da solidão... decidiu que o caminho escolhido era inútil, pois não levava aonde ele queria chegar (E onde é que é mesmo?). Levantou-se e despiu-se de toda a conexão com os antigos ideais, estes não eram mais bens e sim prejuízos! É a hora de pegar outra direção.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sopro



E como se as folhas sofressem de asma, o vento lhes sopra uma tentativa deseperada de preencher seus meandros com a fragrância da vida. Antes tão rarefeito, tão esparso, agora tudo parece tão imprevisível. Não se sabe onde o vento quer chegar, só sabemos que ele chega e, se quiser, pode até nos levar com ele. Nunca o vi, porém sempre confiei no ar para enxugar as lágrimas quando elas ardem, potencializar o sorriso quando eu quero que ele se propague, e espalhar todo o sentimento que meu corpo puder exalar. Sinto como se eu fosse em detrimento da ventania que sacode o lixo perto da minha casa. Tanta coisa revirada quando eu quis jogar fora, tentando ocultar até de mim o que eu não tinha coragem de me mostrar e que agora está alí... jogado e remexido. Para que as coisas sejam fortes o suficiente pra se manterem estáveis perante os furacões,é necessário tempo. Não tempo de contar quantos dias passaram-se, mas o tempo de saber que valeu a pena sentir o vento bater e impulsionar. Sopro.