sábado, 24 de julho de 2010

Meu coração bate forte.
Mas que bater forte é este.
Sabe não sei se é amor.
A pouco não sabia que éramos.
Éramos mais que amigos.
Será que nascemos amantes?
Mas meu medo burro não me deixa.
Às vezes penso “idiota”!
Mas me vejo em beco.
E no meu perder.
Tenho medo de não te ter.
Fico aqui a pensar em você.
A querer você pra mim.
Não é por pena, ou motivo besta.
É por que te amo.
Que te quero aqui.
Perto de mim meu amor escondido.
Meu amor proibido – por mim?
Seria bom te dizer “te amo”.
Mas a vergonha me faz recuar.
Se talvez você percebesse.
Que te amo mais que a mim.
Que meu universo é você.
Ah meu amor tão meu.
Tão não meu tão distante e tão perto.
Queria dizer-te antes que me extinga.
Amo-te!

Ellielton Leite

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Há uma grande história, de entrelinhas macias e significados intensos prestes a receber a inicial maiúscula que inicia qualquer frase.
É hora de começar a escrever.

Miguel Iago Cavalcanti

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quase uma fábula de auto-descobrimento


Desavisadamente, percebo uns graozinhos de terra no chão.

Tão pequenininhos e sutis quanto a minha força. Olho-os com tamanho despercebimento que misteriosamente tudo começa a fazer um estranho sentido.

De onde eu vim para parar bem ali na frente? E por onde aqueles pontinhos de terra capengaram até esbarrarem em mim?

Com certeza temos alguma coisa a dizer um ao outro: algo que de antemão não se definiria por si só, mas que carregaria em si uma mensagem tão forte que abalaria potencialmente todas as minhas estruturas.

Eu, padecendo de um anacronismo de sentidos, prostrei os meus pés sobre esse caminho para que eles o percorram aos milímetros e façam valer a lei da ação-reação, que eu ande por esta terra e ela ande sob mim. Que percorra cuidadosamente os meus meandros, avalie as minhas saídas, meus muros e minhas tantas outras limitações. Coloquei-me nesse caminho calmo, bem longe dos meus aflitos, não para deixar de ouvi-los, mas para ver se eles se emudecem sozinhos. Não posso carregar mais companheiros do que a minha bagagem comporta, é desonesto para com minha coluna tão açoitada por pesos desnecessários. Vim rezando acima de meus limites esgotados de esperança para encontrar por este percurso algum posto de reabastecimento de fé. E tudo anda tão seco... tão seco que chega a me ressecar por dentro. Meu âmago vira a terra árida e quebrada do sertão esperando pela chuva.

Esta chuva veio na forma de você, pedaço de terra?

Se for, desvende-se pra mim, por favor! Eu sei que é presunçoso e sobretudo injusto com você querer seu desfecho antes dos prováveis clímaces, mas é que eu venho carregando uma sede de desfechos tão letais ultimamente. Meu infinito particular escafedeu-se para um desses limbos onde ficam as apatias. Perdi a esportiva sobre mim mesmo. Não tenho mais tempo a perder e nem tenho um motivo consistente de não ter mais porque não perder tempo. Se eu perdesse tempo minha vida faria mais sentido?

Ah, então você está aqui me fazendo perder tempo?

Se for... Perfeito! Obrigado mesmo! Eu estava precisado de verdade de uma vadiagem mental! Faz bem mesmo. Sinto-me novo em folha para qualquer nova coisa. Como seria a terra que Hitler viu antes de começar o holocausto? Seria da mesma matéria que a de Gandhi, enquanto ele pregava assiduamente a paz? Por que a reposta tem que ser um assustador sim? Por que tudo tem que ter um mesmo princípio e a gente que escolha o seu resto? Eu definitivamente não me sinto apto a fazer escolhas de direções. As minhas setas não param de girar, como saber para onde ir?

- Eu só estou aqui porque me desprendi da minha montanha, assim como você! Só parei aqui para lhe lembrar que minha essência é muito maior do que meu tamanho, também assim como você.

- Ué, migalhas de terra falam? Eu hein, vou é continuar andando!

...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ébrio

E, às vezes, como uma borboleta o coração se revela.

Como a areia da praia no vento.

Como uma dolorosa despedida de aeroporto.

Como um quadro perdido de metástase.

Como um estado crucial de apostasia.

O homem padece de uma gripe sinestésica a partir de então, seus sentidos enlouquecem.

Sente o amor com o faro, com as fotos, com o vento, com a ausência, com o choque, com os espinhos.

Repentinamente, o amor avança para um estágio tão nocivo... ganha a inebriante beleza das estrelas de nêutrons,que envolve por sua beleza, seu tamanho perolado, mas só quer que a levantemos pra sentir suas toneladas.

É nesse suspender estelar que tudo dói.

Dói saber que a pessoa existe.

Dói a certeza quase fulminante de que essa pessoa não te quer, de que ela não de deseja vivo da forma como você a deseja.

Dói desejar com todas as forças da palavra desejo.

Dói perceber que ela não te respira, não te vê, não te sente em todo o lugar como o sentido de tudo.

Dói tanto! É como se esmagassem todos os seus sonhos.

Dói como a dor de haverem desordenado as setas para as suas direções.

Dói como a dor de soterrar a fé, como a sensação de sentir o peso do mundo em seu peito.

É um martírio tão gostoso, uma vontade cega de querer vencer se perdendo...

É, definitivamente como uma borboleta.

Não há comparação mais perfeita.

Não há comparação mais indomável, mais impermanente, mais imprevisível e mais direta.

Quando você pousar em mim, esquecerei-me de todos os pesos de todas as estrelas que projetei.

Esquecerei o mar de melancolia transpassando em mim.

Esquecerei o frio apavorante de estar só mesmo com todo mundo.

Lembrarei de meus lábios úmidos, meu corpo molhado, meu semblante sereno, mas de predador, e dessa vontade alastrante que precisei emudecer por um momento de nos fazermos felizes,

Mas é só até você pousar em mim.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Certa apaticidade

Por tanto tempo tenho vestido uma carcaça humana tão vulnerável e sufocante, que às vezes penso não conseguir nunca mais desgrudar meu corpo de minha aura. É como se estivesse preso em uma prisão da exata medida do meu corpo. Tudo tem um toque tão mais apático assim. Eu preciso me domar um pouco melhor, deve ser falta de adestramento – só pode! Pensar nos propósitos de existência deste jeito parece tão insípido: Atingir o nirvana soa como padecer de um infindável e abismático tédio; amar alguém me lembra mais os grilhões enferrujados e pesados de amordaçar escravos do que uma completa entrega recíproca de almas mutuas; se eu for o exemplo de todos, quem vai ser o meu exemplo?

Não, eu não nasci pra ser rei! Não nasci para ter tudo quanto minha ganância me obrigasse a ter com facilidade. Facilidade é palavra de vocabulários de frouxos, não sei se é tão legal assim comportá-la no dicionário pessoal de bolso. Também não nasci para a mendicidade. Nego do direito de precisar demais. Precisar demais é escorar-se. Embora todos os meus instintos apontem para o extremo, eu quero o meio. O meio que divide o ser forte do ser frágil, o ser gigante do ser minúsculo, estar entre o que oferece a mão e o que nela segura, anular as direções – sem esquerda ou direita – Abster-se de qualquer felicidade sufocante, que de tão grande asfixia, e de qualquer sedutora melancolia.

sábado, 3 de julho de 2010

Polêmica da Masturbação

Ui, masturbar-se é pecado! É pecado porque a gente se viola.
Por que se auto-sabotar é tão gostoso?

Contemplando Lispector ou Meu Momento Lispector ou Vomitar de um Anjo.

Era um dia comum. Era um dia tão comum que dava preguiça de ser um dia assim, tão comum, mas mesmo assim o era. Eu estava esperando o ônibus em direção à universidade: mais um dia. E com que desânimo eu pensava nisso: mais um dia. Assim que o motorista abriu a porta de embarque, todos os passageiros rapidamente se ocuparam em preencher os assentos do veículo. Uns conseguiram sentar enquanto outros tiveram que passar a viagem em pé pela falta de cadeiras. Definitivamente estava tudo normal. E eu gostava dessa normalidade como algo que não me ofende e não me desafia. Eu gostava de admirar o igual para perceber todas as nuances quase imperceptíveis de se ser igual. Assim o fiz. Com a cabeça debruçada sobre o vidro na janela, eu conseguia observar o que se passava dentro e fora do ônibus. Admirava as paisagens, mesmo sendo todas já conhecidas e praticamente decoradas pelas incontáveis vezes que eu já havia feito o percurso. Admirava simplesmente por admirar, sem querer nada em troca dessa admiração. Eu estava tão feliz admirando o cenário de graça... é que eu nunca consegui muito bem admirar o meu interior de graça, então me bateu a felicidade de reconhecer que eu tenho a capacidade de admirar de graça, mesmo não tendo tanto controle dessa capacidade.

Distraído em meus nós de pensamentos, lembrei que na minha bolsa estava o livro que eu lia na ocasião, A Descoberta do Mundo, da minha querida Clarice. Caramba, como eu quis ler esse livro! Eu não tenho muito o hábito de ler livros. Pra me fazer ler, o livro tem que me seduzir em cada folha. Quando isso não acontece, não há nada mais torturante e enfadonho pra mim. E essa sedução deve, sobretudo, começar pelo nome. Clarice tem o dom de me seduzir. Ela tem o tempero que me agrada: uma voraz capacidade de entender o mundo, o que não quer dizer uma voraz capacidade de explicar o mundo. Eu adoro pensar no que passava pela mente dela enquanto ela construía suas frases: pensar naquele bico engraçado que ela fazia pra falar, se tinha algum cigarro na mão – Acho isso tão cafona e charmoso, herança da beleza européia – ou se estava escrevendo com a máquina de escrever em seu colo – Que posição linda para se escrever, é tão seminal.

Enfim, à parte minha descarada tietagem por Clarice, voltando à história, eu pus a mão dentro de minha bolsa e retirei o livro. A parte onde havia parado estava marcada pela orelha interna da capa do livro, que por sinal estava toda amassada. Eu e minha mania de marcar páginas assim... que vexame, o livro era emprestado da biblioteca. Eu odiava devolver livros piores do que quando me foram emprestados. Eu estava no meio do livro, o que faz pouca diferença tendo em vista que era um livro de crônicas e eu nunca lia na ordem do livro, saia pulando uns e voltando a meu bel-prazer. Achei a página e saí procurando algum título que me agradasse. Foi quando eu achei algo interessante e comecei a leitura. Ler Clarice, para mim, é como estar realizando o sonho de abraçar o mundo. Ela consegue fazer coisas micro parecerem monumentais – Leiam um conto dela chamado “O Ovo e a Galinha”, ela passa o conto inteiro descrevendo um ovo. Como eu queria ser esse ovo – do mesmo jeito que consegue fazer simples situações ganharem aspectos astronômicos, eu diria. Ela sempre tem um bom conselho pra me dar, o qual eu faço questão de ouvir com o máximo de intensidade que eu conseguir dar à palavra atenção.

Eu estava muito ocupado destrinchando Lispector no ônibus. É muito bom ler no ônibus. Uns dizem que não faz bem, mas eu continuo dizendo sem pudor o quanto isso me agrada. O mundo parece se abster de qualquer direção, a viagem se anula pra mim. Tanto que eu mal havia posto os olhos no livro, a minha parada já estava se pressagiando. Que raiva, iria ter que deixar minha queridinha pra depois. Uma parada antes eu fechei o livro e o guardei na minha bolsa. Engraçado... eu havia visto que muitas pessoas estavam em pé por falta de lugares para sentar, mas não tinha percebido que o lugar ao meu lado estava ocupado por uma mulher. Que desleixo, Miguel! Constrangido pelo particular incidente, eu me refaço e termino discretamente de fechar a bolsa, e a mulher me pergunta com uma cara de preocupação educada:

- Perdão, mas este ônibus está indo para o Hospital das Clínicas?

Gente, que educação sublime! Eu absolutamente não acredito que ela foi educada a ponto de só me perguntar isso agora, quando eu tinha desistido da leitura. Possivelmente ela tomou o ônibus errado – isso eu iria conferir já já – mas o caminho que diferencia um ônibus do outro já se passava fazia uns 5 minutos, ou seja: devia ter pra mais de 5 minutos que ela estava nesse dilema. Se fosse comigo, eu, que respeito muito a literatura e, sobretudo, quem lê, já teria perdido a educação há tempos e rompido a leitura. Quem é que respeita um livro hoje em dia? Foi-se a época, e foi-se à muito tempo mesmo, em que um livro era devidamente respeitado. Muito menos em uma situação de dúvida – Ela estava querendo saber se o ônibus estava indo para o hospital! Possivelmente tinha algum problema de saúde, ou iria visitar alguém por lá. Levar alguém, ela não ia, pois estava sozinha.

- Ih, eu acho que a senhora confundiu o ônibus! Este não só não passa como arrodeia muito – Realmente o nome dos ônibus era muito parecido.

- Ai meu Deus! E como é que eu faço pra chegar lá?

Achei tão fofa a educação até mesmo pra se desesperar, que se tornou questão de honra salvar a dama daquele impasse. Eu estava muito grato por ela ter permitido que eu lesse o quanto eu quisesse de Clarice, minha grande escritora, e sentir uma necessidade urgente de retribuir isso. Mas como? O que eu podia fazer? Foi quando eu e minha geminianice rapidamente ligamos o nome ao lugar: O hospital em questão era o Hospital das Clínicas, o hospital da minha universidade. Então eu precisaria mostrar o caminho para ela.

- A senhora pode descer comigo! Esta vai ser a última parada mais próxima à universidade. Eu lhe mostrarei o caminho interno até a senhora chegar lá, não será difícil.

- Poxa, obrigada!

Quando ela me agradeceu e se levantou comigo para descer, eu involuntariamente liguei essa situação a um conto de Clarice chamado “Mal-estar de um Anjo”, se eu não me engano é esse o nome. Não lembro bem porque faz muito tempo que li, mas neste conto, Clarice se sente mal por ter recebido a gratidão de alguém que ela ajudou. Na ocasião eu fiquei me perguntando o porquê de ela haver se sentido incomodada, mas eu me flagrei na mesma situação que ela. Não entendi o porquê do mesmo jeito, mas estava sentindo do mesmo jeito. Contive-me em apenas sentir o que Clarice uma vez sentiu. Senti-me honrado por, mesmo depois de uns 30 anos no mínimo do mínimo, estarmos partilhando de um mesmo sentimento inóspito. Senti nossas almas em congruência. Senti uma felicidade constrangida e tímida, mas abençoada.

Assim que descemos do ônibus e entramos na universidade, minha cabeça estava freneticamente estudando a melhor explicação para dar a ela, e com toda a gentileza possível. Eu estava quase imprimindo um mapa e entregando a ela. O caminho só era conhecido por quem já estava acostumado no campus universitário. O departamento de medicina ficava muito distante do departamento de música. Por mais que eu tentasse, eu não iria conseguir fazê-la chegar ao seu destino a tempo de se sentir satisfeita comigo. Não havia muito que fazer.

- Veja, se a senhora for por aqui em frente – e apontei para a frente – Vai dar na Biblioteca Central. Chegando lá, a senhora estará mais perto. Depois, passará por uma pontezinha – Pontezinha? Que ridículo! – É só olhar pra baixo da ponte que vai ver água passando – Caramba, essa foi deprimente – aí, quando a senhora passar da ponte, a senhora vai estar bem mais perto. É só perguntar! Com certeza alguém vai lhe explicar! – meu Deus, eu confiei em estranhos uma tarefa somente minha! – é só entrar pra cá – E apontei para a esquerda. Eu não falei esquerda porque me confundo muito com esquerda e direita pra raciocinar rápido o que falar. Por isso, preferi apontar, me perdoem.

Ela acompanhava anotando tudo com os olhos a minha imperdoável instrução.

- Para a esquerda?- confirmando

- Isso! – que bom que ela entendeu!

- Obrigada! Bom dia!

Nossa, ela disse isso de novo? Disse “Obrigada”? Pra isso?

Eu nunca senti um obrigado com tanto remorso. Caiu como um saco de chumbo no estômago. Eu estava envergonhado pra continuar na presença dela, eu queria retirar minha cara e jogar em qualquer canto até ela sair do meu campo de visão. Como eu pude soar tão desimportante para uma pessoa tão doce? Que decepção, Miguel, que decepção! Eu estava muito desapontado comigo mesmo pra querer ouvir qualquer réplica que eu quisesse me fazer. Não queria me ouvir e pronto.

- Bom dia para a senhora também!

Ela deve ter se sentido uma velha pela quantidade de vezes que eu a chamei de senhora, mas acreditem que foi por puro respeito, somente!

Mesmo com um remorso de baleia pesando em mim, observá-la indo ao destino que eu ensinei me soou como uma recompensa. Seus passos estavam engraçados. Ela andava desengonçadamente rápido. Quando a perdi de vista, retomei minha monotonia com certo desgosto, mas agradavelmente. Virei e recuperei a direção para o meu departamento. No curtíssimo caminho, me veio à mente a imagem de Lispector. Será que foi uma sabotagem dela pra mim? Será que foi uma aula de como ser humano dela pra mim? Independente da finalidade, com certeza tinha um quê de Clarice nessa situação.

Eu vivi uma epifania.

Não sou mais o mesmo!