segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Considerações cosmogônicas


Hoje eu vou escrever sobre coisas eternas.

Vou escrever sobre como a lua distribui a luz que evidencia todas as suas crateras. A lua é linda, mesmo tendo aquelas crateras. Às suas crateras eu dedico esta noite com um pequeno peso na consciência. Eu também tenho buracos, mas não os acho bonitos. Eu prefiro ser uma lua nova misteriosa e discreta. Penso que a vida se resume a sermos uma lua nova ou uma lua cheia, sem minguantes. Ou assumimos pro mundo toda a luz que conseguirmos captar, mesmo evidenciando nossas espinhas inchadas ou não corremos riscos e vivemos à espera -À espera não se sabe bem do quê - Damos as costas para a luz e admiramos nosso relevo em sigilo, vivendo em um mundo convenientemente seguro a ponto de essa segurança nos mofar. Sim, isso pode parecer ridículo, porque ninguém é tão exato a ponto de ser ou não ser. Mas eu queria que pudesse ser assim. Desta forma eu não perderia tanto tempo decidindo quantas crateras eu deveria proteger e o quanto de mim eu deveria por em evidência. Pensando bem... eu acho que eu sou mesmo uma lua sem querer ser. Eu não queria precisar do brilho do sol, não queria ser todas as noites tão dependente disso. Mas o que posso fazer? Trata-se de como eu sou e não como eu queria que fosse. A propósito, falar sobre coisas eternas sem mencionar essa minha mania de viver querendo que fosse e não sendo é um erro implacável. Mais uma falha de ser lua nova. Enfim, saindo desse reconhecimento lunar, eu reconheço que eternamente a lua vai me irritar muito. Não por ser linda, mas por eu não saber exatamente qual é a dela pro lado da terra. Será que ela é daquele pessoal que se apaixona e não consegue desgrudar? Cruzes, que pedante. Talvez ela tenha ido passear e foi sequestrada e esteja tentando se saltar até hoje. Talvez ela esteja bêbada tentando achar o caminho de volta sem sair do lugar. À parte essas especulações inocentes, o fato é que a gravidade a hipnotiza eternamente. A gravidade é a lei mais interessante da física – Obrigado Newton!. Um corpo em seu potencial de atração... isso daria ótimos romances em livros. O amor deve ser um tipo de força gravitacional. Só quem já sentiu sabe como é quando de repente todo o seu mundo gira em torno de alguém. Não é algo que se explique. A inveja também deveria ser uma gravidade, já que de certa forma a gente vira um menor em detrimento de um maior que nos atrai por ser tudo que nosso medo almeja mas não consegue. A lei da atração na física está para o amor nos livros: permeia tudo. Aliás, o amor é o recheio da vida e a física é a poesia da natureza. Não acredito como alguém pode ser indiferente a isso, ou pessoas que se julguem incapazes de perceber poesia nas coisas. É algo extremamente natural e nós viemos da natureza, portanto temos a mesma origem. Talvez os físicos nasceram para serem os maiores e melhores artistas, mas passam tanto tempo decifrando os diálogos de deus conosco chamado natureza que não devem ter tempo de interpretá-los. A natureza é a partitura mais fácil de ler se nos dedicarmos a estudar cada símbolo com profundidade e entendermos seu contexto. Acho que esse contexto é a poesia e a poesia é a gravidade. Então é isso que faz uma obra de arte ser uma obra de arte – A gravidade de sua poesia, isto é... o quanto a poesia conseguir te atrair vai determinar a grandeza da obra. Eu gosto de ser um artista porque eu me sinto um mini deus, mas sem soberba. Gosto de poder controlar meu plano físico, que escolhi serem as notas, enquanto Deus controla o dele, que é a natureza. Gosto de embutir poesia nas minhas notas como deus embutiu gravidade nos corpos. Isto eu considero eterno. Eu sei que não vai acabar. É a gravidade que me atrai à vida. E a minha vida faz parte de um conjunto de milhares de vidas atraídos para a mesma força. Como eu amo poder perceber esta poesia! Estou deliciosamente refém em um campo complexamente gravitacional.

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